1.3.2. O DÉFICIT NA DIFICULDADE ESPECÍFICA DE LEITURA

As crianças precisam de habilidades fonológicas para equipar seu léxico durante o segundo estágio de aprendizagem de leitura. Se elas não tiverem estas habilidades, a leitura automática não pode ser desenvolvida; é o que acontece com os disléxicos, eles não têm habilidades fonológicas que equipam o seu léxico.
Segundo SELIKOWITZ (2001, p. 52), a área mais comum de dificuldade é a segmentação de fonemas, o processo pelo qual uma palavra não familiar é quebrada pelo cérebro em seus sons competentes. Crianças disléxicas têm problemas ao desvendar os códigos, para converter os grafemas nos fonemas correspondentes no cérebro. É difícil para as crianças disléxicas progredirem através do estágio fonológico de leitura e eventualmente tornarem-se leitoras automáticas. Elas podem compensar sua dificuldade fonológica tentando desenvolver técnicas de reconhecimento visual, mas estas não são geralmente suficientes para uma leitura eficiente. Freqüentemente, tais crianças têm também um déficit na memória verbal, uma dificuldade de lembrar palavras que acabam de ler, isto pode aumentar mais o seu problema.
Embora a maioria dos estudos recentes mostre que o déficit do processamento fonológico é a causa mais comum de dificuldades específicas de leitura, nem todas as crianças com esta condição têm este problema específico. Algumas crianças têm dificuldade na maneira como o cérebro percebe as formas das letras, um déficit de percepção visual. Os cérebros destas crianças "não são bons" em reconhecer ou interpretar as formas das letras, isto pode acontecer porque as crianças com dificuldade específica de leitura freqüentemente confundem letras com "b" e "d". Algumas crianças agregaram a dificuldade fonológica à dificuldade da percepção visual.
Crianças com déficits fonológicos têm maiores probabilidades a erros fonéticos na ortografia, enquanto crianças com problemas de percepção visual são mais prováveis de cometerem erros visuais (SELIKOWITZ, 2001, p.53).
No plano da linguagem, os disléxicos fazem confusão entre letras, sílabas ou palavras com diferenças sutis de grafia, como "a–o", "e-d", "h-n" e "e-d", por exemplo. As crianças disléxicas apresentam uma caligrafia muito defeituosa, verificando-se irregularidade do desenho das letras, denotando, assim, perda de concentração e de fluidez de raciocínio, de acordo com MARTINS (2004).
As crianças disléxicas apresentam confusão com letras com grafia similar, mas com diferentes orientações no espaço, como: "b-d", "d-p", "b-q", "d-b", "d-p", "d-q", "n-u" e "a-e". A dificuldade pode ser ainda para letras que possuem um ponto de articulação comum e cujos sons são acusticamente próximos: "d-t" e "c-q", por exemplo. Pais e educadores precisam ficar atentos para inversões de sílabas e palavras como "som-mos", "sol-los" bem como a adição ou omissão de sons como "casa-casaco", repetição de sílabas, salto de linhas e soletração defeituosa de palavras. Ainda pode-se caracterizar a criança disléxica da seguinte forma: inventa palavras ao ler o texto, utiliza estratégias e truques para não ler, distrai-se com bastante facilidade perante qualquer estímulo, parecendo que está a "sonhar acordado", tem melhores resultados nas avaliações orais do que nas escritas, não se interessa por livros e apresentam dificuldade de copiar textos da lousa ou de livros.
Numa primeira etapa da aprendizagem, algumas crianças podem apresentar estas características, e esses são considerados erros normais dentro do processo de aprendizagem. Crianças com expressivas dificuldades de leitura não são necessariamente disléxicas, mas todas as crianças disléxicas têm um sério distúrbio de leitura (MARTINS, 2004).

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