O TRABALHO NA ESCOLA COM ALUNOS PORTADORES DE NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS.


DE : ARILZA ALMEIDA DE SOUZA MARQUES
VALÉRIA INÁCIO CHAGAS


Do encontro com as diferenças para a construção de propostas de intervenção.

... Reconstruir uma escola exige a revisão de posturas e de concepções, o reordenamento do trabalho pedagógico e o investimento vultuoso em estruturas includentes...
A escola separava as turmas pelo caráter de homogeneidade (os diferentes com os diferentes, os iguais com os iguais).
Os alunos, portadores de necessidades educativas especiais, foram incluídos na turma dos considerados diferentes.
O mais difícil, então, não era trabalhar com os alunos com necessidades educativas especiais, mas resgatar a auto-estima da turma.
Começamos um projeto em que o principal objetivo era o resgate da auto-estima.
Mas e os alunos com necessidades educativas especiais?
Eles participavam das proposta junto com as outras crianças. Nós é que tivemos que adaptar jogos, brincadeiras e atividades.
A interação com os colegas de turma foi tranqüila e apresentou ausência de preconceitos. Este comportamento surpreendeu-nos e levou-nos a refletir que o preconceito é também construído dependendo das relações que são estabelecidas.
Colocando desta forma parece simples, mas a verdade é que, diante desta experiência, muitas reflexões foram construídas e repensamos muito de nossas práticas:
1- Formação de turmas homogêneas?
O grupo de professoras começou a perceber que deve-se considerar a diversidade de todos os alunos, respeitando-se as diferenças e vendo a importância de construir uma prática que não classifique, separe ou discrimine.
2- Deficiente ou portador de necessidade educativa especial?
A partir da inclusão destes alunos e das relações estabelecidas, descobrimos que o que havia era uma deficiência do olhar de nós professores quanto ao diferente. Este “olhar deficiente” foi construído historicamente, pois a história nos revela que, desde sempre, vivemos num mundo excludente e desigual.
Os alunos não têm este “olhar deficiente”. Ele só se constitui dependendo das relações estabelecidas. E, hoje, os alunos têm a possibilidades de, no convívio com a diversidade, estabelecer ou não a relação de preconceito.
Constituir uma escola inclusiva nos leva a pensar nas relações que estão embricadas no sistema educacional, na função social da escola, na maneira de conceber e construir seu currículo e no contexto em que são geradas as ações pedagógicas. “A prática é algo mais que a expressão do ofício dos professores, é algo que não nos pertence por inteiro”.
* O mais interessante foi nos vermos fazendo a seguinte pergunta:
3- Como vamos alfabetizar esta turma com os alunos portadores de necessidades educativas especiais?
A resposta seria mais fácil se a pergunta fosse: como alfabetizar a turma e os alunos com necessidades educativas especiais?
Alfabetizar a turma e os alunos portadores de necessidades educativas especiais pressupunha momentos diferentes, jogos diferentes e atividades diferentes. Mas isto não seria discriminação? Não seria cortar as possibilidades de integração e sociabilização?
Acreditando que sim. Assim, buscamos alternativas para alfabetizar a turma com os alunos portadores de necessidades educativas especiais.
Constituir uma escola inclusiva nos leva a pensar nas relações que estão embricadas no sistema educacional, na função social da escola na maneira de conceber e construir seu currículo e o contexto em que são geradas as ações pedagógicas. “A prática é algo mais que a expressão do ofício dos professores, é algo que não nos pertence por inteiro”.
Como aconteceu na prática?
· A sociabilização das crianças aconteceu naturalmente. Até a comunicação entre eles é mais fácil. Além disso, facilitamos a comunicação com algumas dinâmicas.
· Durante a realização dos projetos, adaptamos jogos, brincadeiras, atividades favorecendo a interação com diferentes enturmações, como já foi citado.
· Em alguns momentos, dávamos assistência individualizada.
· Participamos de encontros na rede de trocas no CAPE, onde discutimos propostas, somamos experiências e conhecimentos.
· Participamos de alguns cursos de aperfeiçoamento (“Libras, CAPP, “Ah! Eu entrei na roda”; seminários palestras...”).
· Educação física orientada e/ou recreação coletiva.
· Ampliação das práticas escolares para além do espaço escolar (teatro, zoológico, clube...).
· Houve acompanhamento do CAPE para avaliação desses alunos, e ajuda na construção de uma proposta pedagógica que facilitasse o trabalho com a diversidade. Para este acompanhamento construíram-se as seguintes abordagens:
1- Contato com a família e orientação à mesma;
2- Encontros periódicos com as professoras diretamente envolvidas com a turma;
3- Orientação para a estagiárias;
4- Observação da sala de aula;
5- Discussão com o coletivo de professoras do turno, coordenação e direção e orientação do mesmo;
6- Trabalho com o coletivo de alunos do turno, através de um conto;
7- Trabalho com os alunos da turma, a partir do conto e da produção de atividades em grupo, com o objetivo de discutir, com os mesmo, as diferenças entre eles.
8- Através do CAPE, foram firmadas parcerias com outras instituições e outros profissionais (Fonoaudiólogo, Neuropsiquiatra, Hospital Sarah.)

A partir do registro e da reflexão das atividades realizadas, observamos que os alunos já apresentavam avanços diversos e significativos. É do encontro com os alunos inclusos que descobrimos que todos somos diferentes e são essas diferenças, que possibilitam o confronto, o questionamento e o crescimento global de todos os sujeitos envolvidos no processo educativo.
Sabemos que não é fácil trabalhar com a diversidade de nossos alunos, mas somos EDUCADORES, E EDUCADORES sabem sim lidar com seus alunos. A receita nós já temos:

TRABALHO
FORMAÇÃO
COMPETÊNCIA
DESEJO
BUSCA
REFLEXÃO
CORAGEM

Misturando tudo isso com AMOR, a sala de aula vira uma deliciosa “salada mista”.
Segundo Mantoan (1997, p.120), “A inclusão é, pois, um motivo para que a escola se modernize e os professores aperfeiçoem suas práticas e, assim sendo, a inclusão escolar de pessoas deficientes torna-se uma conseqüência natural de todo um esforço de atualização e de reestruturação das condições atuais do ensino básico... Esta mudança de concepção não é, contudo, fácil de ser conseguida, pois a atividade de ensinar é, de fato, complexa e exige dos professores conhecimentos novos que muitas vezes contradizem o que lhes foi ensinado e o que utilizam em sala de aula”.

BIBLIOGRAFIA

BAPTISTA, Mônica Correia. A (de) formação da professora alfabetizadora. BH – Faculdade de Educação da UFMG.
AMARAL, Ligia Assunção. Sobre crocodilos e avestruzes: falando de diferenças físicas, preconceitos e sua superação; Caderno Temático nº 2, 200.
REVISTA EDUCAÇÃO ESPECIAL, Abordagem da práxis pedagógica, Belo Horizonte; Escola Municipal de Ensino Especial de Venda Nova, ano 2, nº 1996.
REVISTA CÁ ETRE NÓS – Síntese do relatório da pesquisa: “Aprimoramento institucional para a Escola inclusiva”.
TESSITURAS, revista nº 1 – Fevereiro de 1995.
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Connell, R. W. Pobreza e Educação in Pedagogia da Exclusão: Crítica ao neoliberalismo em educação, Pablo Gentili (org.). Trad. Vânia Paganini Thurler e Tomaz Tadeu Silva, Petrópolis, RJ, Vozes, 2001.
Mantoan, Maria Tereza Eglér e colaboradores, A integração de pessoas com deficiência: Contribuições para uma reflexão sobre o tema, São Paulo, Memnon, 1997.
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Stainback, Susan e Stainback, William. Inclusão: um guia para educadores; Trad. Magda França Lopes. Porto Alegre, Artes Médicas Sul, 1999.TORRES, Adriana Máximo Monteiro. Texto: Práticas inclusivas, um discussão necessária

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