DISGRAFIA MOTRIZ

AUTORA:Maria José Gugelmin de Camargo
Terapeuta Ocupacional

Especialista em Psicomotricidade Ramain

Especialista em Psicopedagogia


Analisada sob o ponto de vista gráfico, escrita é um movimento que fixa sinais sobre um suporte com ajuda de um instrumento próprio. É um gesto fino, combinação dos movimentos do braço e da mão inscrevendo letras que devem ser fixadas de um certo modo sobre tal suporte e, que reproduzem os sons que ouvimos ou que pronunciaríamos se disséssemos o que escrevemos. Requer, pois, de quem escreve, uma certa execução justa dos signos e uma representação dos sons imediata e exata.Porém a organização do ato gráfico não é inata, a possibilidade de escrever que possui uma criança que processa a aprendizagem da escrita, é o resultado de lentas e essenciais aquisições no plano motor, perceptivo e simbólico.A escrita exige de quem escreve a possibilidade de dispor do espaço gráfico segundo as regras de uso, ou seja, exercer sobre seus movimentos um controle visual permanente de modo que as letras estejam bem ajustadas nas palavras e essas sobre as linhas. Tal controle deve chegar a ser automático.A execução motora da escrita exige maturação de Sistema Nervoso Central e Periférico e certo grau de desenvolvimento psicomotor. A tonicidade e a coordenação dos movimentos devem estar suficientemente estabelecidas para possibilitar a atividade da mão e dos dedos. Essa destreza do tipo motor se desenvolve à medida que a criança progride em sua vida escolar.O aprendizado do grafismo da escrita é necessário porque os pequenos gestos não podem ser decididos por quem escreve, sendo um código comum às pessoas de mesma língua, o gesto deve corresponder à escrita do código. Apenas desta maneira é possível que a escrita adquira um valor de comunicação interpessoal. A escrita é um processo de caráter práxico, que ocorre quando o indivíduo realiza o traçado dos signos gráficos; e que está afetada de forma especial no transtorno disgráfico.Por definição, disgrafia é o transtorno da escrita, de origens funcionais, que surge nas crianças com adequado desenvolvimento emocional e afetivo, onde não existem problemas de lesão cerebral, alterações sensoriais ou história de ensino deficiente do grafismo da escrita.Portelano Pérez (1985) e Brueckner e Bond (1986) classificaram a disgrafia segundo a sua etiologia, embora tenham utilizado terminologias distintas, concordam em que há disgrafia do tipo maturativa, desenvolvida a partir de fatores próprios do desenvolvimento do indivíduo e há a disgrafia “provocada”, de causa pedagógica, cujo substrato é o ensino inadequado da escrita. Ambos, neste caso, reportam-se tanto ao excesso de exigência quanto à deficiente orientação no processo de aquisição do grafismo da escrita.A criança disgráfica é vítima de transtornos que provém ora do plano motor, ora do plano perceptivo, ora do plano simbólico. A dificuldade de integração visual-motora dificulta a transmissão de informações visuais ao sistema motor. “A criança vê o que quer escrever, mas não consegue idealizar o plano motor”. Sua escrita é nitidamente diferente da escrita da criança normal, o que não acarreta homogeneidade no interior do grupo dos disgráficos. Disgrafia padronizada não existe, encontram-se diversos tipos de disgrafia, é como se a criança desenvolvesse seu problema de acordo com as modalidades que lhe são próprias, imprimindo-lhe estilo pessoal (AJURIAGUERRA, 1988).


De modo geral a criança disgráfica apresenta uma série de sinais, ou manifestações como:
? má organização da página
? texto sem unidade, desordenado
? aspecto do conjunto “sujo”
? letras deformadas
? choques entre as letras
? traços de má qualidade
? letras corrigidas diversas vezes
? enlaces mal feitos
? espaços entre as linhas e palavras irregulares, linhas mal mantidas
? pouco grau de nitidez entre as letras
? dimensões exageradas (muito grandes ou pequenas)
? desproporção entre pernas e hastes.
? postura gráfica incorreta
? preensão e suporte inadequados dos instrumentos de escrita
? ritmo de escrita muito lento ou muito rápido
? dificuldades na escrita de números e letras
? dificuldades de imitar o que vê (martelar, amarrar sapatos, fazer mímicas)
? fenômenos dolorosos geralmente por hipertonia de mão e dedos
? dificuldades para copiar letras e outros símbolos pois não oferecem pista dos padrões motores que se deve usar
? desenhos distorcidos, mal colocados na folha, sem proporção ou planejamento e pobres em detalhes
? excessiva inclinação da folha ou ausência de inclinação


AVALIAÇÃO:

Para ser completa e fidedigna deve englobar a sintomatologia específica (erros de grafismo), e as causas subjacentes.
1- Avaliação específica de grafismo: escala D ou Teste Grafomotor (AJURIAGUERRA, 1988) para crianças a partir de sete anos, de aplicação individual ou coletiva e valora três aspectos da escrita:
- aspectos da página, o conjunto do texto.
- inabilidade, regularidade das letras, espaçamentos, enlaces, etc.
- erros de forma e proporção.
Além disso, sugere observar a postura, inclinação da folha, preensão do lápis, e outros.
2- Avaliação Psicomotora: sua importância reside no fato de que o corpo é o suporte indireto da escrita, se a criança não dispõe de adequada capacidade de controle dos movimentos, de equilíbrio, de planejamento e representação mental do gesto, de percepção espaço temporal, de representação e percepção corporal, evidenciará dificuldades para coordenar os movimentos necessários para o traçado da escrita.
3- Avaliação de outros fatores associados aos fracassos caligráficos: aspectos intelectuais, aspectos da personalidade, sondagem pedagógica.
REEDUCAÇÃO DO GRAFISMO - deve prever três aspectos fundamentais:
1- desenvolvimento psicomotor
2- desenvolvimento do grafismo em si
3- especificidade do grafismo da criança
1- desenvolvimento psicomotor - embora as atividades psicomotora devam ser desenvolvidas em função dos resultados da avaliação específica, deve-se considerar aquelas habilidades necessárias ao grafismo da escrita, como: postura, controle corporal, dissociação de movimentos, representação mental do gesto necessário para o traço, percepção espaço-temporal, lateralização, coordenação viso-motora e percepção corporal.
2- atividades do grafismo em si: destinadas a melhorar as habilidades relacionadas com a escrita, recorrendo-se de recursos próximos a ela, sejam quanto às exigências do ato motor, quanto às exigências de planejamento e representação mental ou quanto do uso de instrumentos específicos.
2.1- atividades pictográficas: diferentes técnicas de pintura, desenho e modelagem.
2.2- atividades escriptográficas: destina-se a melhorar os movimentos e posição gráfica, embora não abordem diretamente a escrita. São técnicas em que se utilizam lápis e papel, que a criança deva realizar sentada, e têm um espaço gráfico limitado.
3- especificidades do grafismo da criança: é a correção de erros específicos do grafismo daquela criança disgráfica: inclui formas das letras, tamanho das letras, inclinação das letras, enlaces, aspecto do texto, inclinação da folha, manutenção da margem e da linha entre outros.

PARA REFLETIR
A escrita é fruto de uma aquisição possível a partir de um certo grau de desenvolvimento intelectual, motor e afetivo associado ao aprendizado socializado de seu código, quando e onde a escola tem papel fundamental. Escrever não é somente um modo de fixar nossos pensamentos e idéias, é ainda em nossa sociedade uma maneira de comunicação entre nós e o outro. É a forma mais privilegiada de registro e comunicação na escola, apesar de todo o aparato tecnológico disponível.
Na escola as crianças disgráficas apresentarão dificuldades no processo de aquisição do grafismo da escrita, por não estarem prontas para isso. Elas não têm possibilidades de dominar os instrumentos e movimentos através da interiorização de suas sensações corporais. Porém, na escola exige-se que acompanhem o currículo convencional, que aprendam mais depressa do que permitem suas aquisições, ou que aprendam num ambiente em que logo se dá conta de que os outros “são melhores”. É difícil para elas evitarem sentimentos de que não têm muito valor. Sentem que do ponto de vista da escola e sob seus próprios pontos de vista, elas é que falharam, elas é que não conseguiram classificar-se.
Em várias ocasiões os profissionais que trabalham com a criança não levam em consideração as dificuldades reais de aprendizagem da escrita e toda a complexidade que supõe. Muitos profissionais estão longe de conhecer os fatores e requisitos cognitivos, motores e psicológicos que são necessários para que se produza a aprendizagem favorável da escrita, e por isso não atendem a essas dimensões no processo educativo.
É considerando isso que a escola deve proporcionar à criança condições adequadas de desenvolvimento e de aprendizado do grafismo da escrita, para que ela possa dentro de suas possibilidades pessoais responder às exigências da função de comunicação da escrita – a legibilidade

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